sexta-feira, 10 de julho de 2009

AS NOIVAS DO CORDEIRO: Um mundo real e igual

Opinião, Rainha do Mundo, não está sujeita ao poder dos reis; estes são os seus primeiros escravos” (Rosseau).
Em cidades pequenas, o mexerico, a intriga, a bisbilhotice são diversão apreciada. Muitas vezes provoca tragédia e dramas. A vontade de passar informação faz parte do homem. É a comunicação algo natural, mas na maioria das vezes tem conseqüências desagradáveis. Quando a pessoa não controla a cobiça, toma atitudes prejudiciais, por falta de escrúpulos, e é o que leva à instabilidade, fragilidade nas inter-relações. Certamente as sanções de exclusão social, por desaprovação levam a perda de prestígio, ao ridículo ou ao desprezo. Não se pode subestimar as influências das massas que aumentam as forças mais “pessoais” e intencionais. Um poder eficientemente usado pelos políticos nos rincões atrasados do país.
Evidentemente que a ignorância e apatia refletem o grau de desenvolvimento cultural. Não é necessário um demasiado exercício de imaginação para reconhecer a realidade por detrás de fachadas, e cenários paradisíacos perfeitos; em qualquer lugar é possível ocorrer traições conjugais, violência física ou simples fofoca. Por detrás do cenário sempre existe o bastidor (cultura oculta?) e somente uma pessoa irremediavelmente ingênua acredita em tudo que é apresentado pelos noticiários pseudo-históricos e sensacionalistas.
Poderosos interesses influenciam atitudes inescrupulosas para esconder fatos históricos. Contudo o procedimento do etnólogo (antropólogo em estudos etnográficos) revela detalhes diferentes de estudos superficiais e tendenciosos. Certamente o profissional honesto desagrada a algumas correntes, por realizar a “Ressurreição do Passado”, que essencialmente é a realidade histórica sujeita à rejeição social. O procedimento correto desemboca numa reflexão antropológica, distinta das observações vulgares, que explica determinada conjuntura. Portanto, não concordar com a forma como foi editado o documentário Noivas do Cordeiro é uma questão de princípios e mais do que uma visão totalmente diferente da realidade, é protesto da população belo-valense ofendida com o que afirmam ser inverídico – os fatos da discriminação na escola e o que parece ser uma covardia social, por rejeitarem as jovens garotas do local, sem que elas tivessem comportamento transgressor.
“Tornamo-nos cultos através da arte e das ciências. Tornamo-nos civilizados pela aquisição de uma variedade de requintes e refinamentos sociais” (Kant).

Os indivíduos, entendidos como unidades do organismo social, realizam diversas ações sociais, muitas de cooperação, outras de divergência ou de destruição da estrutura social. Homens e mulheres serão sempre seres biológicos e culturais. Portanto, ser ou estar no mundo é, fundamentalmente, ser ou estar na cultura. Costumes toscos e selvagens formam a cultura para um estilo de vida. Quanto mais próximo da natureza quanto mais distante dos costumes das modernas sociedades industriais e urbanas.
É próprio da antropologia estudar os fenômenos que designam uma sociedade e uma cultura, que foram digeridos e interiorizados. Observando e participando de modo claro e objetivo da trama da vida biológica e social. Trata-se de uma concepção multidimensional da realidade social. O pesquisador histórico e antropológico reconstitui o passado mediante diferentes métodos. Deve estar familiarizado com as artimanhas do comportamento humano e evitar que os indivíduos possam encobrir os rastros e anular o passado. O profissional de pesquisa histórica deve compilar esses acontecimentos em ordem cronológica e de importância, com a descrição e ‘periodização’ e ‘momentos críticos’.
Não significa que os profissionais que realizaram estudos etnográficos na Comunidade de Noiva do Cordeiro desejam perpetuar quaisquer polêmicas, inverdades e provocações ou ainda manter as divergências entre os adversários, mas não é possível ignorar os detalhes que alteraram profundamente as relações entre os grupos de pessoas. Todo o adulto normal é aquele que vive dentro das coordenadas que lhe foram atribuídas; afastar-se dessas linhas sempre é um risco de marginalização.
Nenhuma sociedade pode existir sem o controle social. Os instrumentos e métodos de controle social variam de acordo com a finalidade. O mais antigo e supremo método é a violência física e subjetiva; o ridículo e a difamação são instrumentos potentes de controle social em grupos primitivos, que zombam e escarnecem aqueles que eles rejeitam. Certamente esta foi a reação de muitas pessoas que não concordaram e não concordam com o que ocorreu nessa comunidade que transgrediu os regulamentos impostos pela cultura local; desfiles de lingeries, a igreja se transforma num bar, as posições políticas surpreendentes, etc. Todas as pessoas inteligentes e cultas deveriam saber que o Direito e a Cultura nem sempre estão de acordo um com o outro.
A linguagem recebe características do povo que a pratica, pois, são formas de expressar comportamento. Portanto, muito mais fácil para uma pessoa relapsa, inconseqüente e omissa. Disse o escritor português José Saramago: “ As verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global...”
A fé do cientista se mantém até que surja o primeiro para contradizer seus dados. Porém antes de perceber que está errado, e que seus pressupostos estão falhos, mantém-se defensor de sua idéia, e não deve render aos lamentos ou argumentos, mas sim provar as evidências contundentes, até a completa elucidação.
Quando se trata de descobrir a Verdade Absoluta temos um grande problema de tecnologia. Pequenas verdades podem ser demonstradas e descobertas, porém a Verdade Absoluta, com detalhes precisos e contundentes assemelha-se a um elefante sendo tateado por quatro diferentes cegos que buscam identificar que objeto é aquele. O primeiro pega na tromba e diz: eu sei o que é isso. É uma mangueira. O segundo no rabo do elefante e diz: não é um espanador. O terceiro contradiz os dois primeiros: que nada isso é uma pilastra. Quando se trata de interpretar fatos e textos, elucidar mistérios ou encontrar provas, as pessoas têm muita dificuldade. Os peritos sabem que – evidência não é prova. Contundo, as evidências podem levar à prova.
QUINZE MINUTOS DE FAMA - Ser contemplado com “quinze minutos de fama” pode embriagar as almas das pessoas com imaginação de poderes infinitos, especialmente uma imaginada superioridade em relação aos outros pobres mortais desconhecidos. Perigoso que os minutos de fama estiverem baseados em armações e espertezas. Alguém precisa ficar lúcido e reconhecer que o romantismo do amor pungente e verdadeiro é fantástico, e um fenômeno quase sobrenatural. A grande maravilha além do simples brilho dos palcos consiste em que todos os que são alvo da “mórbida curiosidade” mantenha-se atento aos seus impulsos. Existe uma ideologia pra atender esse “fervor instantâneo e sensacional”. Com muita freqüência embora nem sempre, as ideologias destorcem sistematicamente a realidade social com o intuito de sobressair onde isto lhes interessa. A pressão é um sistema de controle para manipular dados e a opinião pública, com oferendas de doces e balas ou ameaças de balas com pólvora. Todos que se manifestam impulsionados por ideologias são absolutamente sinceros. O esforço moral necessário para mentir deliberadamente está além da maioria das pessoas. É muito mais fácil iludir a si próprio. Importa distinguir o conceito de ideologia dos conceitos de mentira, fraude, calúnia, difamação, propaganda, historietas e histórias, sensacionalismo e prestidigitação. O mentiroso, por definição sabe que está mentindo. O ideólogo não. A maioria das teorias de conspiração exagera grosseiramente.
“MÁ FÉ” - Estudos antropológicos e sociológicos mostram que o homem é aquilo que a sociedade o fez ser, e que esse mesmo homem/mulher tenta, debilmente, hesitantemente, às vezes, apaixonadamente, ser outra coisa, alguma coisa que ele mesmo tenha escolhido ser. Com ímpetos de bravura, heroísmo, nacionalismo, xenofobia bolorenta. Esta infinita precariedade de todas as identidades atribuídas socialmente não enganam o hábil perito. O profissional estudioso das sociedades modernas e primitivas está e devem estar de prontidão e por demais consciente da maquinaria do palco para se deixar arrebatar pela cena representada. Sabe-se que os “atores sociais” fazem acrobacias para cumprirem seus papeis, Rapunzel, Robin Hood ou Rapunzel. O especialista tem enorme dificuldade em conceder status ontológico à pantomima. Por conseguinte o profissional de ciências humanas sempre terá dificuldades com qualquer conjunto de categorias que oferecem designações para pessoas – "bi-curiosos",“caucasianos”, “negros”, “judeus”, “brasileiros”, “prostitutas”, “mulheres fáceis”, etc. A sociologia nos leva a entender que um “negro”, “prostituta”, ou “mulher fácil” é uma pessoa assim designada pela sociedade e que essa designação libera pressões que tenderão a transforma-lo na imagem designada, mas que essa pressões são arbitrárias, incompletas, e, principalmente, reversíveis.
Lidar com um ser humano exclusivamente enquanto “negro”, “prostituta” ou “mulher fácil” é um ato de “má fé”, e não importa que a pessoa que utilize a imagem seja um racista, puritano, conservador ou liberal em matéria de raça e sexualidade. Na verdade, vale notar que os liberais muitas vezes se enredam tanto nas ficções dos repertórios aceitos socialmente como óbvios quanto seus adversários políticos. A diferença é que atribuem valores opostos (igualmente exagerados), a essas ficções. Trata-se de assumir um “orgulho” no lugar da “vergonha” anterior. A compreensão sociológica deixa claro que o próprio conceito de raça, nacionalidade, e sexualidade não são nada senão uma ficção; não nega as contra formações e consideram-nas firmemente como sendo úteis na organização de resistência à opressão. Seja como for, estão fundadas em “má fé”, cujo poder corrosivo por fim cobra seu tributo, quando os que adquiriram dolorosamente orgulho de sua raça, nacionalidade ou sexualidade descobrem que adquiriram na verdade algo de muito vazio.
A perseguição preenche a mesma função de “má fé” como o preconceito ou discriminação racial. A imagem vacilante da própria pessoa é garantida pela contra-imagem do grupo desprezado. Não é preciso que se possua profundos conhecimentos de psicologia para perceber o pânico frio que se oculta por trás do comportamento rude. A “má fé” no ato de pressão tem as mesmas raízes da “má fé” em toda parte, seja pela paixão, ignorância, ou ainda mesmo a evasão à própria liberdade, inclusive àquela terrificante liberdade concedida ao indivíduo dentro de um grupo. Todos os seres humanos têm de lutar contra imensos obstáculos para definir para si próprios uma identidade, constantemente, ameaçada. Pode-se entender tudo isso como um jogo entre muitos, mas de modo algum a última palavra a respeito da “Verdade Absoluta”. É preciso sentir interesse pelas diversões epistemológicas e manter o tão necessário humor que mantém a saúde e equilíbrio homeostático; evitando-se alteração da glicose, da pressão sanguínea e males da bexiga.
Não podemos entender plenamente o mundo político se não o encaramos como um jogo sujo, ou o sistema de estratificação se não percebemos sua forma de baile de máscaras. Ficaria difícil alcançar uma clareza e percepção sociológica das instituições a menos que se lembre o tempo inteiro como uma criança, andando meio trôpega, mas feliz, põe uma máscara e assusta seus colegas de jardim de infância ao gritar: “bú”!. Um sociólogo ou antropólogo não poderá compreender a lei se não se recordar da jurisprudência de uma certa rainha em “Alice no País das Maravilhas”. Não são observações para menosprezar o estudo sério, o comportamento justo e transparente dos fatos. Trata-se, pois, de simplesmente sugerir que ao se observar essas postagens e comentários nunca se deve, repito, perder o humor e equilíbrio emocional, evitando-se, deste modo embriagar com as palavras. Existem muitas verdades que só percebemos ao rir. Muitas vezes rir de nós mesmos. Existe uma imensa riqueza na vida pregressa de todos. Atualmente dizemos se não está no “google não existe”. Temos de aprender a conviver com a velocidade das informações. Embora essa relativa liberdade e poder de comunicação sejam tanto útil quanto nefasta e mesmo meritória, do ponto de vista humano.
Como adquirir escrúpulos e continuar a trapacear? Com referência explícita ao enorme poder da comunicação, em uma referência específica a uma concepção cristã da verdade e do que é correto. Claro que não se trata de defender posições religiosas, mas conhecer e compreender os valores com os quais nos identificamos. Não sendo necessária defesa apaixonada das preocupações sagradas.
É um sonho que o conhecimento sempre nos leve ao poder, nem por isso deixa de ser verdade que a lucidez conduz à aquisição de controle, disciplina, desenvolvimento, civilização. Não necessariamente nesta ordem. Em termos de comunicação, na era global, as ferramentas dão-nos um arsenal demoníaco. É algo completar para as pesquisas de comunidades, instituições sobre as quais os jornais e as pessoas trazem informações diárias, especialmente em sentido comparativo entre o que um atesta e outra nega. É um tanto bizarro, quando descobrimos a mentira, pois ela é sempre algo deplorável. Devemos ter cuidado com esse arsenal demoníaco...