terça-feira, 11 de agosto de 2009

NOIVAS DO CORDEIRO: Existem pesquisas demais?

O desenvolvimento das ciências sociais incita a sociedade a redefinir sua identidade a partir de um território mais estreito. Por outro lado, nos moldes das ciências experimentais, o cientista social, diante da realidade observável, detém-se diante dos fatos históricos e acontecimentos com estudos e trabalhos ligados às suas fontes, em confrontação necessária, sem desdenhar quaisquer informações. Na medida em que registra os dados brutos, evitando seu ponto vista, ou qualquer representação construída sem embasamento. Trata-se, pois, da reconstituição dos conjuntos de dados, mediante tratamento estatístico e analítico, até a revelação de uma tendência lógica. Seria ilusório querer explicar as sociedades a partir de idéias simples ou simplicistas, pois o ser humano é um animal sofisticado e complexo, mesmo o mais rude dos indivíduos não poderia ser compreendido e comparado facilmente com animais numa escala evolutiva abaixo da raça humana.
Os fenômenos culturais contêm formas simbólicas dentro de uma estrutura, o que significa realizar estudos sobre o que constitui dentro do contexto social, essas formas simbólicas. O estudioso científico precisa estar atento à distinção óbvia e sutil, do que é cultura e o que é produção individual, estritamente ligada à personalidade e caráter. Os indivíduos não absorvem passivamente as formas simbólicas que lhes são apresentadas, mas “dão-lhes um sentido pessoal”. A história dos costumes ocorre por uma mistura constante de fenômenos e comportamentos herdados e invenção. Certamente é necessária a reconstituição da origem dos conflitos com a descrição sincera dos costumes e comportamentos sociais. A pesquisa histórica não pode confundir a memória popular com a memória do Estado. Se algo não aparece na cena pública, pode ser ignorado pelo historiador “apressado”. Contudo, o profissional altamente qualificado e hábil distingue bem a historiografia, com base em documentação e provas, das histórias das mentalidades. O procedimento científico certamente, desagrada a algumas correntes envolvidas no “jogo de interesses”. Justamente pelo fato de que o profissional vê além do sensacionalismo e populismo místico, por ser um perito observador “ao vivo” e por um longo e intenso período.
Os entusiastas estudiosos de antropologia têm de estar familiarizados com as artimanhas do comportamento humano, e suas ressonâncias. As fontes convidam o pesquisador histórico e profissional a reconstituir, mediante diferentes métodos, a revelação lógica dos acontecimentos. Com o procedimento correto desemboca numa reflexão antropológica que explica uma determinada conjuntura. O que leva o intelectual a interessar-se sistematicamente pelas razões imperativas dos acontecimentos. Algo notório e distinto das observações vulgares e destituídas de seriedade.
Uma marcante obtusidade deve ser assim considerada e observada nos detalhes que são relevantes. É necessário reconhecer que o gabarito da ignorância e desvio de caráter nunca servirá aos excelentes propósitos do desenvolvimento cultural. Os problemas são essencialmente éticos e culturais; não para serem aceitos, mas também porque é fato que culturalmente existem costumes que são abomináveis. Na maioria das vezes, alguns interesses fazem com que se encontre “respostas simpáticas” nas profundezas mitológicas do “subsconsciente” para explicar atitudes malfazejas de personalidades doentias e depravadas. Tudo em última instância depende de cada pessoa que influencia ou é influenciada. É estúpido, pois, dizer que o brasileiro é quem está mais preparado para compreender ou realizar estudos do comportamento brasileiro, seja por uma atitude complacente e cúmplice ou por aceitação e tolerância com os hábitos desagradáveis. Estudiosos científicos em observação-participante são peritos e mesmo em situação de choque cultural, devem ser hábeis e ter conhecimentos suficientes para discernir sobre o que é inteligência e malandragem. É distinta a inteligência reconhecida por todos, no meio de diferentes traços psicológicos e culturais que apresentam evidências contundentes da folclórica “malandrice brasileira” (exemplos óbvios são as famosas “carteiradas” e a frase: você sabe com quem está falando?).
É reconhecida a importância e vulto do problema cultural brasileiro contra as ciências. Parece tão axiomático quanto problemático e muito desrespeitoso falar de ciência, sem compreensão e estudos, e somente a partir da “bomba atômica contra Hiroshima”, e nunca lembrar orgulhosamente do heroísmo de Oswaldo Cruz. É claro que as crenças vulgares favorecem a intrigas, superstições e preconceitos, certamente, infelizes e perniciosos. Seres humanos não são pombos, mas a irracionalidade artística de várias pessoas faz-nos supor que estejam mais próximas da inteligência medíocre da ave muito esperta.
Algumas pessoas temerosas do que as pesquisas científicas possam revelar protestam contra elas, fingindo ignorar os resultados positivos e podem maldosamente influenciar os incautas e distraídos. É necessário esclarecer que as pesquisas valem-se de método comparativo e buscam respostas a infinidades de porquês, até encontrar soluções a graves questões. Isso levanta claramente um problema social, pois o que é permitido ou proibido a uma pessoa é permitido a todas as outras. A legislação deveria ser mantida ao mínimo absoluto, protegendo os direitos dos bebês, menores e incapazes, mas não interferindo na conduta de adultos conscientemente concordantes (consenting adults). É preciso manter a realização da individualidade. Contudo, os estudos científicos são ricamente detalhados, comprovadamente auxiliando na compreensão dos acontecimentos. Várias dúvidas podem ser respondidas mediante entrevistas, enquêtes ou pesquisas, com diferentes metodologias. Para melhor compreensão existe o que exemplo de uma sucessão contínua que designamos “psicoticismo” e que pode ser medida por questionário da mesma maneira que neuroticismo-emocionalidade ou extroversão. Pessoas que obtém um alto escore nesse inventário, são geralmente desajustadas, com tendência à crueldade, e desumanas, procuram mais e mais sensações, estão sempre em busca de uma “onda de ativação”. Com ressalvas, porém, geralmente gostam de coisas extravagantes e incomuns, e desprezam o perigo e a má fama, não se incomodam por sua consciência. Suas atitudes têm coloração definidamente patológica. Ignorar isto seria imprudente nos estudos sociais que as envolvem.
É preciso “ver as coisas com novos olhos”, com os olhos da iluminação e compreensão e uma dose de serenidade. Outrossim, é indubitável que essas contribuições científicas são de enorme importância para uma abordagem inteligente de uma política pública com relação a esses assuntos. Quer dizer que os métodos científicos implicam em alguns valores específicos que são peculiares a essas disciplinas. Tudo que for realizado pelo ser humano, mesmo o mais trivial, torna-se significativo para o pesquisador. Certamente, pesquisar nunca é demais. E as pessoas deveriam procurar mais informações antes de propagarem idéias depreciativas, por ciúme, incompetência ou ruindade pueril.
Parece lógico estudar a cultura e as personalidades que nela interferem, começando-se pela hereditariedade. Contudo as influências da hereditariedade não aparecem no nascimento. Fato que ocorre na puberdade, do impulso sexual. Em alguns homens de meia idade, surgem as formas hereditárias de surdez e de paralisia. Nascer em uma família excepcionalmente inteligente, de rara longevidade, é por outro lado, usufruir também dos benefícios da hereditariedade. A definição das contribuições para a personalidade geralmente consideradas “não ambientais” são – constitucional, congênita, inato, e hereditária. Tais influências podem ser estudadas matematicamente, embora complexas, porém concebível. Temos a lição de que a Seleção Natural atua constantemente sobre os indivíduos e sobre as nações. As sociedades complexas precisam de uma grande variedade de temperamentos e de habilidades naturais, como nos lembra o ditado: “Todas as espécies são necessárias para se construir o mundo”. O homem prático que se sente responsável pela comunidade põe-se logo a pensar nas implicações sociais, pode ser de bom alvitre fazermos uma pausa e esclarecer algumas dessas implicações. Pode-se melhorar a humanidade com a melhora no ambiente e na constituição genética do homem. Mas que constitui realmente aperfeiçoamento? As perguntas e respostas são infinitas e de fato pode-se dizer que as pesquisas são extremamente necessárias, sejam elas realizadas por crianças do ensino fundamental, de colégios, acadêmicos ou por profissionais técnico-científicos.
Qual a melhor forma de compreender os estudos e seus resultados sutis? Bem, os cientistas sociais estudam durante anos e têm de estar preparados para dar respostas de acordo com suas especializações. São comparados aos médicos clínicos gerais que atendem um paciente e indicam outro especialista (ginecologista, psiquiatra, pediatra, etc.). Vamos supor que uma cientista social visite uma comunidade hipotética, de uma cidade imaginária e verifique que ela comentada maldosamente como se fosse um prostíbulo!...Nessa suposição, talvez o cientista considere relevante primeiramente a Mobilização Social e posteriormente descubra que o imaginário convocante seja – combater essa terrível e injusta fofoca. Talvez uma das estratégias fosse proferir palestras em diferentes lugares e mesmo enviar “releases” para sugerir pautas a editores de diferentes jornais. Certamente, no caso dessa comunidade hipotética, se constituída por pessoas virtuosas e gratas, fariam comentários cada vez mais simpáticos sinalizando gratidão, mesmo que os “releases” não se tornassem matérias jornalísticas ou um documentário. Sabe-se que confiança depende de credibilidade e a gratidão depende especialmente de virtude. Tanto quanto é preciso saber que 99% das realizações comunitárias e pessoais dependem única e exclusivamente do que essas comunidades e indivíduos fazem com o que aprenderam. É óbvio que os estudiosos, como seres humanos, podem ficar felizes com os sinais de gratidão, mas geralmente devem trabalhar sem a expectativa de tais honrarias.