sexta-feira, 18 de março de 2011

Noivas do Cordeiro e Josiele Fernandes Almeida;


Com os estudos etnológicos iniciados em 2006, Mobilização Sócio-Comunitária e intervenção antropológica na Comunidade de Noiva do Cordeiro, muitas pessoas revelaram-se empreendedoras, inteligentes e extremamente criativas. O processo inicial, embora empolgante foi dificultoso e exigente. Havia um entusiasmo e motivação dos moradores, com muita alegria e expectativas.

As primeiras reuniões fizeram delinear um empreendimento científico, distinto do que era realizado, noutras comunidades, desde 1999. Em Noiva do Cordeiro havia um ambiente de absoluta tranqüilidade, embora com os primeiros encontros, os moradores foram conscientizados, através de conversas e palestras, sobre a Representação Social delas para os moradores de Belo Vale, e o que isso poderia acarretar para o futuro deles dentro do município.

Foram feitos os primeiros levantamentos. Naquele período havia cerca de 250 pessoas, que aos finais de semana, quinzenalmente chegavam a 311 indivíduos. Havia uma população jovem, com absoluta predominância de mulheres. Eram nove crianças, quatro adultos na quinta idade, doze na terceira idade, vinte e quatro na faixa etária mediana, e os demais eram compostos por jovens entre treze e vinte oitos anos. Flávia Emediato e Elida Dayse Leite foram recomendadas fazerem os primeiros levantamentos historiográficos, sobre os antigos moradores locais. Rosalee Fernandes e Delina Fernandes tornaram-se patrocinadoras do empreendimento. Liberaram espaço para ateliê (tecnologia do bambu e cerâmica), escritório e biblioteca comunitária.

No segundo mês de relacionamento ocorreu o primeiro choque cultural, entre moradores e pesquisador. Certamente, mesmo para um profissional com larga experiência, como pesquisador científico, poderia se surpreender com as diferenças comportamentais que apresentavam. Era um ambiente inusitado, com dezenas de pessoas recém saídas da adolescência, vivendo no extremo do município, na zona rural, entre colinas e matas. Acostumados à liberdade e felicidade que o ambiente permite.

Conforme o que estava prontamente estabelecido e a forte resistência à intervenção, convencionou-se que deveria ser interrompida ação no local. Nisto, alguns moradores reuniram-se e dissuadiram o antropólogo a não sair e que concedesse outra oportunidade de realizar o que estava em pauta. Ofereceram-se para acompanhar todas as atividades do profissional e intervir quantas vezes fossem necessários, os seguintes moradores: Vasseni Fernandes Pereira, Cláudia de Lima, Josiele Fernandes de Almeida.

Uma seqüência nova de atividades foi posta em prática. As motivações se renovaram. Vasseni, Cláudia e Josiele se tornaram imprescindíveis para a continuidade do projeto comunitário. Naturalmente, na forma de animadores de comunidade as resistências foram cedendo lugar ao consentimento. A Mobilização Sócio-Comunitária foi posta em prática, na forma de projeto de capacitação profissional, e organização comunitária. Surgiram lideranças que foram delegadas a elas funções específicas, mais ou menos de acordo com as necessidades e possíveis vocações. Raniele Leite tornou-se gerente do Ateliê e Valéria de Artesanato, Flávia Emediato e Renata Emediato, como diretoras da Biblioteca Comunitária, Vasseni Fernandes Pereira, chefe do transporte, Cláudia de Lima, Secretária de Cultura, Josiele Fernandes de Almeida, Monitora de Antropologia e Fotógrafa oficial.

Evidentemente a contribuição foi geral, mas não se pode negar que as atitudes de Josiele Fernandes Almeida tornaram-se indispensáveis para que se desse continuidade ao empreendimento. Durante os primeiros quatro meses ela foi capaz de fotografar, de maneira excepcional, 5.444 poses de qualidade, não sendo necessárias maiores ajustes das fotos depois de batidas. Durante seis meses redigiu, sob orientação na forma de ‘Ghostwriter’, o livro – Alamiré; do Tejuco à Noiva do Cordeiro. Muitas vezes ultrapassou os limites físicos para ver acabada alguma tarefa.

Mostrava-se, geralmente, recatada e nunca estava à frente das atividades comunitárias, mas após comprometer-se em colaborar para que tudo ocorresse bem, envolveu-se nas mais diferentes frentes de trabalho. Organizou grupo de pesquisas quantitativas no município. Organizou eventos e participou da redação do folhetim Noiva do Cordeiro. Realizou palestra, pela primeira vez, na Igreja Católica, dos Pintos, em Belo Vale; havia um clima tenso, quando a maioria dos moradores se retirou como que não concordando com o que estava sendo dito a favor da comunidade Noiva do Cordeiro. Ela ainda concedeu a primeira entrevista, para o Jornal Estado de Minas, durante duas horas, para falar sobre a discriminação contra as moradoras de Noiva do Cordeiro.

Há uma soma considerável de dados informativos sobre Noiva do Cordeiro que se deve ao total esforço dessa moradora em transmitir para o pesquisador. Poder-se-ia multiplicar, facilmente, os inúmeros exemplos de esforço e consideração que ela forneceu, de maneira surpreendente. Durante, o período de 2006-2008, os registros e estudos relativos à comunidade, compuseram um volume de 12.700 laudas de computador. Uma parte na forma de livro, cujos títulos são os seguintes: Noiva do Cordeiro; origem de um preconceito (historiografia),Vale do Paraopeba; Comunidades.

Esta postagem é um registro de fato que bem poderia passar despercebido e ignorado, não fosse a relevância e significado que contém, nos estudos e levantamentos científicos, naquela comunidade. Certamente, o amor dessa jovem pela sua comunidade e a todos os moradores é algo impressionante, jamais visto antes durantes os anos de pesquisa na região. Ela abriu mão, durante longo período, da sua rotina divertida e prazerosa, para cumprir o compromisso, na forma voluntária, que fizesse seguir o projeto de Pesquisa Etnológica e Mobilização Sócio-Comunitária. Várias pessoas da comunidade contribuíram direta e indiretamente para que o empreendimento fosse levado a cabo. Contudo, a jovem moradora de Noiva do Cordeiro, Josiele Fernandes Almeida, esteve sempre mais próxima dos acontecimentos que provocava tensão e estresse, além de sua dedicação para compreender as atividades antropológicas. Foram momentos emocionantes belos e outros atribulados. Sem a sua ajuda, sua motivação e incentivo, tudo seria mais difícil. Sinceros agradecimentos.