terça-feira, 29 de setembro de 2009

NOIVAS DO CORDEIRO: o desenvolvimento comunitário




O desenvolvimento de uma comunidade em qualquer parte do mundo é uma questão de conhecimento. É muito complexo o simples termo com as suas infinitas implicações, pois o desenvolvimento não acontece sem o sacrifício. A humanidade realmente tem dados passos largos para o futuro, mas ainda existem muitas contradições nesse desenvolvimento e só acreditamos que sejam contradições simplesmente por acreditarmos que o desenvolvimento é quase sinônimo de perfeição. O desenvolvimento, deste modo, é uma tentativa avançada de melhorar as condições de vida, mas depende das “vontades”, e no pior das hipóteses, do conhecimento sobre as possibilidades e a escolha de um futuro promissor. Quando as pessoas estão entusiasmadas, com certeza estão imbuídas de desejos positivos, e o mesmo NÃO acontece quando as pessoas simplesmente não sabem que têm um problema grave para ser resolvido.
No dia 28 de agosto de 2006, no primeiro encontro foi surpreendente, pois os moradores não pareciam saber a melhor solução para o falatório contra eles. A pressão e isolamento causaram uma perda, com algumas pessoas reagindo com indiferença às propostas de reavivamento das relações com a vizinhança. Ainda no ano de 2006 os comentários eram inteiramente favoráveis à realização de um projeto rural no estilo urbano, ou seja, com ligeiras adaptações no estilo, permanecendo o que de fato admiravam e desejavam para si próprios.
No inicio, constatou-se que as atividades diárias eram de um grupo de cinco senhoras trabalhando na Oficina de lingeries, outro grupo no casarão, e as demais em suas próprias casas, com possibilidades de incrementar o orçamento através de outros meios, inclusive com o aproveitamento da matéria-prima local, tais, como as folhas, sementes, bambu, e argila. Não foram encontradas as velhas cantigas, ou o artesanato tradicional e histórico, mas apenas o aproveitamento de retalhos em pequena escala, na feitura de tapetes. As expressões culturais vibrantes e impressionantes estavam ligadas às atividades substitutivas, a primeira vista, do que outrora foi a Seita Noiva do Cordeiro; o fundamentalismo do grupo deixou o legado artístico do teatro e até mesmo a organização comunitária, institucionalizada. Estas são as mais puras expressões de valor espiritual de cunho religioso, sem os ritos mágicos ou dogmas.
A melhor estratégia encontrada foi promover as atividades, na medida que houvesse concordância, e simultaneamente estabelecer uma linha de trabalho com intuitos óbvios de transformações. Dentre as atividades imediatas dentro do processo foi organização de uma “empresa virtual”, com claras distinções de função entre uma e outra pessoa, sem contudo realizar testes de aptidão, apenas em conformidade com o estratagema adotado. Inicialmente, foi fornecido uma sala do casarão colonial, onde antes era um quarto, para se tornar o escritório. O local foi denominado Departamento de Comunicação Visual; monitoria antropológica. A seguir o porão foi organizado para se tornar o Ateliê, onde foram iniciados na tecnologia do bambu e cerâmica. Outro cômodo do casarão se tornou a Biblioteca Noiva do Cordeiro (ou Biblioteca Anísio Pereira). Outra sala era para os cursos de Cultural Trekker (com inglês, história do Vale do Paraopeba e Comunicação) e também o Curso de Filosofia Aplicada (lógica elementar e história do pensamento, argumentação, etc.). Ficando em aberto o Curso de Informática Inteligente (Tecnologia e Informação, com noções de Antropologia e Pesquisa).
Com a organização de pequenos grupos, pouco a pouco surgiram as discussões honestamente expressas. Ocorreram grandes revelações de talento e personalidade, do mesmo modo facilitou a compreensão de comportamento ou mesmo os danos causados pela conturbada relação com o mundo externo, da vizinhança. Principalmente, ocorreram manifestações contundentes associadas ao rótulo repugnante e vexatório para eles de – “prostitutas”. Surgiram ondas de fatos e ocorrências de difícil solução. No ano de 2007, exatamente em março, um senhor muito admirado e membro da Grande Família Noiva do Cordeiro, faleceu em Belo Horizonte, após agonizar trinta dias consecutivos. O histórico complexo deste processo está inserido nos estudos de Tanatologia e Geronto-antropologia.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Noivas do Cordeiro; relatório sucinto das atividades

Os fatos que antecederam ao acontecimento atual(a visibilidade comunitária e prestígio da Comunidade Noiva do Cordeiro) podem não ser os únicos e decisivos, mas certamente contribuíram para acelerar o processo. É evidente que qualquer profissional de ciências sociais passaria por momentos difíceis, diante de uma população alegre, confiante, solícita mas com expectativas que poderiam ser frustadas. Os elogios e expressão de admiração incentivaram continuar mesmo nos momentos mais difíceis. Era uma situação admirável e comovente, com significados inesquecíveis.
Em conformidade com a Mobilização Social, foram organizados o passo a passo dessa nova construção. Era necessário criatividade, persistência e audácia. Naquele período, de 2006, a comunidade de Noiva do Cordeiro não convivia com os vizinhos intensamente. Deste modo, o plano era aproximar pouco a pouco dos vizinhos, porém com os primeiros encontros para serem organizados em Rio Acima, Brumadinho, Moeda e por último os moradores da cidade Belo vale. Entretanto, no dia 21 de outubro de 2006 o presidente da Associação de Noiva do Cordeiro convidou os moradores de vários povoados para um grande encontro de confraternização e almoço. A partir desse acontecimento inusitado, o cronograma das atividades foi modificado. Enquanto os visitantes circulavam dentro e ao redor do casarão, alguns comentavam sobre o local, como se ali realmente fosse um prostíbulo. Por este motivo foi feito uma palestra e mostra de vídeo antes do almoço. Foi dado a partida para um movimento a favor das jovens senhoras que freqüentemente eram constrangidas com comentários, críticas e afirmações sobre elas serem “prostitutas”. Essa foi uma das mais emocionantes palestras, que depois foram seguidas tantas outras em diferentes lugares da cidade.
Com o convite e hospitalidade de senhora Delina e sua filha Rosalee, os profissionais passaram à técnica de observação-participante, ao mesmo tempo dando forma à idéia de construção e elaboração de uma empresa, com seus consecutivos departamentos, mesmo sem mão-de-obra especializada. De maneira improvisada foram ocupadas as salas do casarão colonial, como se fosse um Centro Cultural, com escritório de Comunicação Visual e Monitoria de Antropologia; redação e fotografia. Também foi organizado o espaço do porão para ser um Ateliê, e outro cômodo para ser a Biblioteca. Josiele Fernandes Almeida é nomeada Diretora Geral, torna-se fotógrafa oficial, Cláudia Lima é nomeada Secretaria de Cultura e Educação, Flávia Emediato, por sua vez é nomeada Diretora de Biblioteca e do Teatro Noiva do Cordeiro. E assim por diante, outros nomes se seguiram em funções com objetivo de aprendizado e orientações práticas, na forma de aprender-fazendo.
A velocidade com que aconteceram as coisas trazia uma grande inspiração e fluía boas expectativas; era preciso ir mais rápido e organizadamente. Era a primeira vez que praticavam o artesanato (tecnologia do bambu, cerâmica, etc.) e desde setembro de 2006 até dezembro de 2006, e os produtos foram para a Expominas. O número de pessoa disponíveis eram animador, mas era preciso um “faz-de-conta” e dinamismo. Foi dado o inicio de uma engajamento elaborado e contundente, em que um grupo de jovens foi escolhido para tomar ciência do que estava ocorrendo.
Entre novembro/2006 e março/2007, foram realizadas muitas visitas estratégicas, em busca de parcerias e cursos. Sobretudo baseadas nas profundíssimas necessidades psicológicas de cada indivíduos. Certamente uma necessidade de ampliar o estado de percepção, com propostas de reflexões sobre a Representação Social deles e o que almejavam para si. Surtiu grandes efeitos o curso ministrado de – Filosofia Aplicada -, com discussões densas e complexas, previamente elaboradas pelo professor. As aulas foram ministradas de forma análoga à tradicional escola grega com seus métodos, no caminho do Ágora. Os cursos ministrados foram:
a) Trilha Cultural; história do Vale do Paraopeba, História Afro-brasileira, Bandeirantismo, Comunicação e Idiomas (inglês);
b) Filosofia Aplicada; debates e argumentos, lógica elementar e história do pensamento;
c) Tecnologia do Bambu; corte da matéria-prima, estudos de estética, noções de desenho, gestão de negócios; Luminárias e Cercas
d) Cerâmica; história da arte e cerâmica, preparo da matéria-prima, estudos de estética, economia, Luminárias e miçangas
e) Comunicação Visual; noções de luz, perspectiva, o significado do significado, fotografia, técnica e prática;
f) Dança Dramática; comunicação e expressão, coreografia e história, estudos e prática;


O procedimento habitual, em conformidade com Ecologia Intelectual, dentro da linha filosófica do empreendimento sempre foi propor discussões e atuar rigorosamente poupando maiores sofrimentos e desgastes. Assim sendo, a demanda nos concedeu oportunidade e compreender as necessidades e anseios comunitários. Evidentemente, o “mundo aceito sem discussão” tornou-se alvo de intensas discussões e reavaliações. Na verdade ocorreu uma necessidade de reavaliação, do ponto de vista, da imagem pública que ostentavam e decidiram de maneira prática e eficiente – mudar o comportamento. É fato que a combinação de diferentes matérias saindo da Trilha Cultural, Filosofia Aplicada, Tecnologia do Bambu, Cerâmica, Comunicação Visual e culminando na Dança Dramática, favoreciam a interdisciplina e profundas reflexões.
Sempre que necessário, foram realizadas oficinas, cursos e palestras para complementação dos ensinamentos. Portanto, muitas das visitas que foram realizadas faziam parte de uma esquematização e exercício prático, para adaptação social, de acordo com os efervescentes acontecimentos. As palestras eram tanto preventivas, como medida sócio-educativas. Tais cursos, oficinas e palestras foram:
1. Dezembro de 2006 em Noiva do Cordeiro; Palestra sobre Gestão de Negócios, a elaboração organização do Ateliê em Noiva do Cordeiro, cronograma e organograma de atividades, etc.
2. Janeiro de 2007 em Monte Sião; Palestra sobre historiografia, imagem pública e comunicação, etc.
3. Fevereiro de 2007 em Noiva do Cordeiro; Palestra sobre Comunicação e Expressão, a Representação Social da Mulher, e tudo que ela disponibiliza para atrair, seduzir ou causar danos à sua reputação
4. Fevereiro de 2007 em Noiva do Cordeiro; Palestra sobre o termo – prostituição -, nos seus significados populares e religiosos quanto jurídicos. O desenvolvimento da sexualidade feminina, a combinação harmoniosa entre o direito e a cultura. O nome Noiva do Cordeiro, a Fábrica de Lingerie, os Desfiles de Lingeries, a proporção de mulheres na comunidade, a faixa etária das mulheres, a prostituta no decorrer da história, sobre preconceito, rejeição e adaptação social. Os resultados e decisões a partir desta palestra deram novos rumos à comunidade, com o conseqüente “release” enviado à redação do Jornal Estado de Minas, sobre a pauta possível envolvendo a comunidade.
5. Março de 2007 em Noiva do Cordeiro; Palestra sobre tabagismo, o uso e abuso de drogas psicofarmacas, os critérios e definições técnicas sobre o usuário e traficante, o uso de substâncias entorpecentes e a imagem pública de Noiva do Cordeiro, o perigo de exposição, etc.
6. Março de 2007 em Noiva do Cordeiro; Palestra sobre comportamento e comunicação, com a distinção entre as relações íntimas, particulares, sociais e públicas.

Foram selecionadas algumas pessoas da comunidade para visitas e reuniões com grupos de pessoas, para posterior parceria e ações conjuntas. Segue-se algumas dessas visitas realizadas pessoalmente, entre 2006 e 2007, que são as seguintes:

a) Prefeitura Municipal de Moeda; Secretaria de Educação;
b) Sede da ONG AMA-MOEDA;
c) Sede da ASMAP – Assoc. de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento Cultural do Vale do Paraopeba;
d) Jornal Tribuna;
e) Faculdade ASA de Brumadinho;
f) C.A.C.I. – Centro de Arte Contemporânea de Inhotim;
g) Salão do Encontro de Betim;
h) Lamebe;
i) Secretaria de Cultura de Bonfim;
j) Grupo Tambolelê;
k) Grupo Tocando Pela Vida;
l) Grupo Amuleto;
m) FIEMG;
n) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;
o) Instituto Histórica Israelita Mineiro;
p) Consulado H. da Alemanha;
q) Consulado H. da Índia;
r) Clube do Vôo Serra da Moeda;
s) Condomínio Retiro do Chalé;
t) Rancho do Peixe;

Foram realizados cursos e oficinas através de pessoas engajadas no Projeto de parceria entre ASMAP e PURBASIUN VITAE PROJECT – INTELECTUAL ECOLOGY e Associação Comunitária Noiva do Cordeiro. Alguns dos cursos foram iniciados e interrompidos por motivo de força maior.

a) Oficina sobre Ciências Políticas e Cidadania; Acadêmica de ciências sociais Eduardo Amorim;
b) Oficina de Luthieria e música; pelo maestro Reinaldo Coronel Guevara;
c) Mini-oficina de Informática Inteligente; técnico analista de sistema e estudante de administração de empresas Bruno Johnny.

Nota: O projeto desenvolvido em Noiva do Cordeiro foi inicialmente uma parceria para que ocorressem atividades de Noiva do Cordeiro em Chacrinha dos Pretos. Devido às grandes distâncias e dificuldades de transporte, o projeto em Chacrinha dos Pretos foi suspenso, na intensidade anterior e intensificaram em Noiva do Cordeiro, durante o período de 2006 até 2008.