quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NOIVAS DO CORDEIRO; sociologia da moral


Os acontecimentos de rejeição contra os moradores de Noiva do Cordeiro, registrados durante o período de estudos etnológicos no povoado, estão fundamentados nos padrões culturais da região. A história, por estes lados, se desenvolveu durante os últimos trezentos anos, sob influência massiva do pensamento cristão católico, entre a maioria dos vizinhos. Concretamente, os moradores de Noiva do Cordeiro foram rejeitados e não por preconceito, muito embora aleguem, em entrevistas, matérias jornalísticas, documentários, reportagens rapidinhas, fictícias, superficiais e unilaterais. Rejeição é o termo apropriado que se aplica no caso deles, uma rejeição que surgiu a partir das contrariedades que provocaram e não por serem vistos de modo injusto e sem quaisquer embasamentos.

Sanção Social para coibir excessos e promover
a ordem vigente...

Todos os seres humanos são afetados pelos padrões culturais, ainda que os ignore. Isso vale para todos os setores da sociedade, pois se as pessoas não fossem mais ou menos previsíveis, os negócios seriam mais complicados de se desenvolver, a economia de qualquer lugar do mundo seria sempre afetada gravemente. Suponhamos que todas as pessoas mudassem repentinamente e saíssem às ruas de modo inconveniente, seria um trabalho difícil inclusive para a polícia. Todos nós somos afetados pelos padrões culturais. Portanto, todos nós estamos sujeitos às normas e punições legais. Conforme as leis vigentes daquele período, poderiam ser processados e condenados por muitas das suas atitudes, especialmente pensando na postura inconveniente e precipitada de “transformar a Igreja num bar”. Este foi um rompimento com o que as pessoas geralmente consideram sagrada e verdadeira. A atitude corajosa é um fato inédito, com sinais claros de rebeldia contra os princípios que anteriormente defendiam, de modo fundamentalista. É um fato antropológico surpreendente e de difícil compreensão para o leigo. Contundentemente, pode-se afirmar que seja algo impossível de ser aceito ou compreendido por pessoas crédulas e supersticiosas.
Para quem precisa lidar com aquilo a que se chama “o público”, a existência de um comportamento padronizado é de máxima utilidade. A vida em sociedade seria praticamente impossível se não fosse o fato de existir formas de comportamento regularmente padronizadas, portanto previsíveis, embora, não demasiadamente previsíveis. Existem pessoas que dizem: “não me importo com o que pensam de mim. Sou assim, e os meus amigos gostam de mim, do jeito que sou”. Pensar assim é o mesmo que agir feito as avestruzes que enfiam a cabeça num buraco e deixam o corpo de fora. Realmente, sempre teremos pessoas que se identifiquem conosco, mesmo que isto signifique a chatice de ter a companhia de um bando de pessoas tolas, promíscuas, marginais e cínicas. Por outro lado, somente os tolos gostam da companhia dos tolos, mas os sábios e bons são sempre mais exigentes; tolos são sempre mais exibicionistas e surpreendentes, mas a surpresa não deve ser maior do que a lei permite. Seria uma conversa inteiramente estúpida se alguém tomasse o argumento como se ele significasse – repressão, castração ou autoritarismo. Ao contrário, isto significa plenamente disciplina segundo os ditames da liberdade condicionada. Segundo os limites tênues do concebível, a liberdade não é ilimitada, pois seria selvagem e absolutamente constrangedora, portanto, ao contrário não seria liberdade. A liberdade pressupõe vários critérios, inteligentemente, esquematizados. A norma é necessária, ou todos nós teríamos dificuldades para lidar com os outros, e nem mesmo o marido e esposa saberiam a melhor maneira de agir, um com outro, e os filhos seriam também afetados.

“Os tolos são sempre mais exibicionistas e surpreendentes,
mas a surpresa não deve ser maior do que a lei permite”.

Dois dos problemas mais interessantes e difíceis das ciências sociais consistem em determinar como é que os padrões de cultura se modificam. O comportamento das pessoas afeta os padrões de conduta na sociedade. Desde os tempos mais antigos até os dias atuais, a norma e o bom senso sempre facilitaram as relações entre os povos e há sérias conseqüências para aqueles que rompem com o que está estabelecido como sendo certo e normal. Faze-lo é um risco considerável. No que diz respeito à comunidade de Noiva do Cordeiro é imprescindível considerar que se trata de uma vila dentro de um contexto sócio-cultural, e está à mercê dessas mesmas normas de conduta estipuladas pela sociedade a que pertence. O rompimento com qualquer dessas regras, por mais simples que sejam, provoca e deve sempre provocar reações as mais diversas. As mudanças repentinas e surpreendentes provocam estresse e reações. É necessário fazer um exame de consciência e analisar até que ponto as pessoas podem romper com a norma, moral e bons costumes sem prejuízo algum.
A moral precisa ter algumas linhas seguras e equilibradas. São importantes a conceituação e análise sobre as implicâncias que existem nas questões envolvendo a sociologia da moral. É justamente a nossa aderência aos princípios éticos que decidirá sobre os limites de nossa liberdade. Todas as pessoas na civilização estão sujeitas às sanções sociais e jurídicas.
Há um contraste surpreendente nas atitudes dos moradores de Noiva do Cordeiro, quando se rebelaram contra os princípios e dogmas de sua religião, assumiram os riscos ao agirem de maneira revoltosa e revoltante; a partir do ponto de vista da defesa do que é proveitoso para a harmonia social. Desobedecer e agir ao contrário do que se espera, sempre, provoca, e no caso deles, provocou reações, com processos e demandas judiciais; numa pendenga por longos períodos de anos. Com a transformação do edifício da igreja Noiva do Cordeiro num bar, isto fez com que surgissem comentários e indignação contra eles. É uma hipocrisia negar a ofensa cometida contra os vizinhos religiosos, e, inclusive muitos membros da própria seita, seus parentes. Vale ressaltar que essas pessoas são testemunhas oculares dos acontecimentos do povoado, inclusive estiveram em situação litigiosa contra os moradores de Noiva do Cordeiro, por diversos motivos, eles nunca foram ouvidos, como deveria ser nas reportagens honestas e
obedientes à ética jornalística.
Sabe-se que as igrejas são locais que as pessoas acreditam ser pontos de encontros com a presença simbólica de Deus, há os que admitem acreditar que uma presença espiritual esteja presente. Esta ligação simbólica é transformada em direitos sobre o que é relevante para o equilíbrio social entre as pessoas que acreditam ou não, sendo uma crença proveitosa, há de se supor que o sagrado é o que essas pessoas admitem por sagrado, merecendo respeito.


“Com a transformação
do edifício da
igreja Noiva do Cordeiro
num bar,
isto fez com que surgissem comentários e
indignação contra eles.”

Segundo os levantamentos, através de entrevistas e convívio intenso, ficou tácito que as ocorrências foram exuberantes e dignas de intensos estudos científicos. Do mesmo modo o leitor honesto e inteligente não deve julgar e reagir perversamente contra um acontecimento ocorrido há mais de vinte anos. Trata-se, pois, de contextualizar os fatos sem negligenciar os fatores. A velocidade com que fizeram as transformações foi um grande susto e fez com que algumas das mais brilhantes mentalidades também ficassem chocadas. Sabe-se que no espaço curto de tempo, dizem que em um ano, os membros da seita Noiva do Cordeiro, simplesmente, retiraram as paredes da igreja e começaram a comercializar bebidas, promover a jogatina, bailes e mais tarde os “famosos” desfiles de peças íntimas, com meninas adolescentes da comunidade. Em Desterro de Entre Rios, a atitude foi ainda mais ousada, pois transformaram a própria igreja num bar. Alguns dos seus vizinhos que residem dentro e próximo do povoado, afirmam categoricamente que imediatamente após essas fortes transformações, seguiram-se os descasamentos e mudanças de parceiros, o uso de bebidas alcoólicas e tabagismo, e seus vizinhos dizem de modo claro – “o uso de drogas e troca de casais”.
Durante o período de observação-participante, os moradores negaram que tenha havido práticas de promiscuidade entre eles e não foi possível registrar algo nesse sentido. Certamente esses não foram os objetivos científicos de pesquisa etnológica ou mobilização comunitária. Mas, por motivos óbvios, foram realizadas inúmeras palestras e admoestações sobre drogas, inclusive gravadas em vídeo.
Os moradores do povoado, na versão deles sempre defenderam a idéia de que nutrissem profundo respeito um pelos outros. E é óbvio que a noção de respeito deles é expressamente particular, não assemelhando à idéia defendida nas proximidades vizinhas. Realmente, algo notável que foi observado durante o período de intenso convívio de observação-participante, de 2006-2008, era a fabulosa cordialidade uns com os outros e tolerância extremada com as falhas desses, muito embora e de modo evidente, não tenham demonstrado o mesmo nível de tolerância em relação àqueles que não sejam da comunidade. Algo compreensível, mas fortemente experimentado pelos profissionais do projeto Purbasiun Vitae Project – Intelectual Ecology que foram alvo de manifestação contundente e perturbadora, em muitos momentos dessa relação profícua, no sentido científico.
Contudo, para os vizinhos que não conheciam e muitos ainda não conhecem a intimidade comunitária, é previsível que a opinião se tenha dividido. Com os famigerados desfiles, de tempos atrás, a comunidade se tornou alvo de visitas de homens afoitos e cobiçosos. Isto fez aumentar os comentários de indignação, das esposas, namorados, pais e familiares desses freqüentadores das festas em Noiva do Cordeiro. Alguns juristas dizem que segundo as leis estavam infringindo normas, ao praticarem o crime de vilipêndio contra o local sagrado, conforme a lei brasileira. Não há como evitar a idéia de que ultrapassaram alguns limites.
Evidentemente ainda hoje perduram costumes exóticos entre eles, mas é difícil comprovar a prostituição tradicional, muito embora o conceito religioso e cristão de prostituição seja claro e específico nesse caso, na contundente versão bíblica para prostituição. Os ofendidos, pois, devem ater-se ao sentido concebido pelas crenças religiosas sobre prostituição religiosa e outras considerações explícitas sobre o que culturalmente é defendido pela maioria da população. O termo prostituição é, hoje, amplamente, usado pelos moradores da região, como expressão de uma sexualidade livre.

Lembre-se que
a opinião pública é sempre muito cruel.
Não se importar com ela não significa estar acima dela.

Recentemente, 2007 para 2008, e, de modo intrigante, comentado por muitos vizinhos, mas orgulhosamente divulgado pelos moradores da comunidade de Noiva do Cordeiro que levaram ao pé da letra a idéia de “mutirão para ter filhos”. Muitos dos casais da comunidade resolveram simultaneamente ter mais filhos e num curto espaço de tempo de diferença de um para o outro casal, cerca de três meses entre o primeiro e o último a conceber filho, nasceram cerca de 22 crianças entre eles. Uma notícia recebida com estranheza pelas pessoas da circunvizinhança, e vários comentários surgiram sobre a atitude propalada, despertando idéias incontroláveis nos comentários sobre prazeres vergonhosos, entre os mais imaginativos. Lembre-se que a opinião pública é sempre muito cruel. Não se importar com ela não significa estar acima dela.
Não têm faltado etnólogos interessados pelo assunto do comportamento sexual dos povos civilizados e primitivos. A partir dessas pesquisas e estudos comparativos podemos esboçar algumas idéias razoáveis sobre os traços fundamentais da ética sexual.
Mesmo entre os povos primitivos existem barreiras na vida instintiva sexual. Alguns desses grupos inclusive têm mais restrições do que os mais tradicionais dos homens civilizados. Portanto é refutável a idéia de que os povos primitivos sejam promíscuos.
Por um lado, a hipótese de que os povos primitivos tenham sido, ou sejam promíscuos, é contestável, pois esses povos dão ao regulamento sexual, juntamente, com o homicídio, um significado dos mais importantes. As normas sexuais formam uma rede compacta que abrange a maior parte das situações vitais do indivíduo e mesmo da tribo; da gravidez, do nascimento, no rito de passagem, do matrimônio, etc. Segundo alguns antropólogos (Frazer, Preuss, Frobenius, etc.), existem duas posições distintas na história da civilização humana; a atitude religioso-supramundana e a atitude mágica. As duas concepções da sexualidade nos povos primitivos têm algo de comum que os define. A orientação geral é de cunho tabuístico. Ou seja, tabu religioso ou tabu mágico. Ambas as formas de orientação sexual possuem uma tonalidade de caráter sagrado. É claro, que em ambas existe a idéia de sanção automática devido à sua violação.
Concepções artísticas de um mundo moderno em que a sexualidade esteja fora dos parâmetros culturais do que é normal e proveitoso, ainda encontrarão resistência entre vários grupos religiosos. A regulação da vida sexual é objeto de preocupação religiosa, e os moradores de Noiva do Cordeiro, ainda que tenham rompido com toda forma de religião, estão sujeitos à interpretação do que é considerado apropriado e inapropriado. Mesmo com a idéia moderna e paradoxalmente primitiva, com riscos de promiscuidade, o “ficar” entre grupos de casais é uma atitude que provoca as imaginações e gera falatórios diversos. O termo fornicação é empregado numa série de textos bíblicos, e em muitos casos com o significado de infidelidade religiosa (João 8: 4; Apocalipse 17-19). Em geral significa, como no grego clássico, a luxúria segundo sua acepção mais ampla – relação sexual de homem-mulher fora do matrimônio, que tanto pode ser fornicação estrita, adultério ou incesto. A formulação de um comportamento sexual próprio do cristianismo não é uma teoria, é uma mística. Lembrando ao leitor de que a região na qual estão inseridos os moradores de Noiva do Cordeiro há predominância cristã tradicional.
Não se pode construir uma moral sexual à margem de seus pressupostos antropológicos, ou, o que é pior, em contradição com eles. A maioria das opiniões e interpretações sobre a moral sexual tem origem na ignorância de uma antropologia sexual. O modo de abordar o assunto pode ser variado, conforme os caminhos de acesso que se adotem, tais como o biólogo, o psicólogo, o sociólogo, etc.

“Não têm faltado etnólogos interessados pelo
assunto do comportamento sexual dos povos
 civilizados e primitivos.
A partir dessas pesquisas e estudos comparativos
podemos esboçar algumas idéias razoáveis sobre
os traços fundamentais da ética sexual.”

Uma das grandes contribuições de Freud para o estudo da sexualidade foi o de mostrar que a sexualidade humana não é uma realidade que surge num determinado momento, de uma vez por todas. A sexualidade é um fato dinâmico. Está submetido à lei de uma contínua evolução. É tão importante que compromete o desenvolvimento do indivíduo. Se a sexualidade é deste modo, então é necessário admitir que os erros, mais profundos, acontecerão nesse nível de evolução, daí os erros de fixações, regressões, das imaturidades e inadaptações. O homem e a mulher vivem e expressam a sua sexualidade no plano psíquico com características diferenciais. O amor humano é, pois, masculino e feminino.
A. Jeanniere, em Antropologia Sexual, diz: “A atividade do homem e a passividade da mulher são a miúdo a simples transposição psicológica de um simbolismo concedido ao pênis e à vagina... A evocação de um simbolismo primário de penetração e de receptividade, de posse e de acolhimento, até mesmo de conquista e de cativeiro, não tem muitas vezes mais peso do que o de um suporte idealizado com base em concepções tradicionais dos papéis próprios do homem e da mulher. Transposição dos gestos do ato conjugal para o conjunto dos diversos comportamentos da vida humana; com a possível influência (comumente nefasta) destas imagens na própria técnica amorosa”.
Conhecer as diferenças psicossexuais é algo de muito valioso e necessário para a avaliação do comportamento moral de cada um dos sexos. Margaret Mead, em Sexo y temperamento, diz: “Há duas formas de projetar a existência: uma própria da mulher e outra própria do homem. Esta maneira peculiar provém das estruturas antropológicas e da cultura; às vezes, a ‘cultura’ se sobrepõe à ‘natureza’, e outras vezes é a ‘natureza’ que não se deixa moldar pela ‘cultura’. Daí o caráter relativo e absoluto, ao mesmo tempo, do masculino e do feminino; duas categorias que se manifestam nos estudos etnológicos da sexualidade”.
O corpo humano dá à existência a possibilidade de comportar-se ou de projetar-se em formas simbólicas. Assim como a palavra é a expressão do pensamento, assim o corpo é a manifestação da existência. O corpo é o modo de nos tornarmos autênticos ou simplesmente anônimos. A existência corpórea exprime-se em diversas linhas, tais como através do movimento físico, da inteligência e da sexualidade. De fato, a vida sexual nos dá uma intelecção da história da existência de uma pessoa. A reprodução sexuada é uma “deliciosa invenção”, que no ser humano é mais do que simplesmente um ato de reprodução sexual. A sexualidade humana supõe o aperfeiçoamento das relações sociais. Entre os grupos de indivíduos desenvolvidos e maduros, a sexualidade é uma demonstração sofisticada, inserida no contexto cultural, de respeito e civilização.
O comportamento sexual tem uma dimensão sócio-cultural, é um fenômeno sociológico e cultural. É claro que a vida sexual tem bases sócio-antropológicas. É relevante lembrar que existe uma grande diferença entre o comportamento sexual do homem e o comportamento sexual dos animais. Esta diferença apóia-se no fato de que é necessária a superestrutura social na vida sexual do ser humano. O homem, contrariamente ao que sucede com o animal, não tem a sua sexualidade enquadrada nos limites de uma periodicidade estabelecida. Faz-se, pois, mister uma sexualização normal nas instituições sociais. A sexualidade contém muito de biológico, psicológico e sociológico. É por tal motivo que se torna necessária a presença da superestrutura social, uma vez que o ser humano precisa ordenar os seus impulsos como atos conscientes. As normas sociais para a sexualidade ajudam a buscar sua finalidade, não por meios automáticos instintivos, mas por meios superiores de orientação social.
A moral e honra é irredutível à sociologia e é autônoma em face desta. A ética depende da realidade constitutivamente moral do homem. Embora tenhamos de admitir uma variação nos costumes e até nas concepções morais do diversos povos, não se pode aceitar que não existem verdades e normas solidificadas e imperativas em todos os tempos. O escritor B. Häring, no livro intitulado El matrimonio em nuestro tiempo, diz o seguinte: “A sociologia da moral ou, para dizer melhor, a sociologia dos costumes e dos conceitos éticos, é particularmente importante quando examina metodicamente e com circunspeção, com um conhecimento claro de suas possibilidades e limitações, as mudanças que se operam nos costumes e nos conceitos éticos, e procura determinar até que ponto elas são devidas à ação do meio”.
O moralista cristão muitas vezes cai em tentação de ver as normas morais de um modo “abstrato e relativista”, como se estivesse “universalmente válidas”, e o mesmo pode ocorrer com os sociólogos que também podem ceder ao perigo de deduzir de meros fatos e normas imperiosas para a conduta humana. Este desejo de fugir de toda metafísica e da validez universal dos princípios, favoreceu à crença pseudocientífica de que, em questões de verdade e de moral, também é válido o princípio da – maioria democrática. A normatividade biológica é distinta da normatividade moral. O conceito de norma moral sexual nunca é de origem biológica. Quando uma norma sexual se baseia apenas na biologia, desaparecem qualquer ética e educação sexual. A norma não provém de uma natureza biológica, já que a norma é de caráter social ou de caráter moral.
Noiva do Cordeiro é um nome de forte conotação e implicância do gênero feminino. O próprio desenvolvimento da comunidade sofreu influências fortíssimas da liberdade concedida à mulher, nos últimos tempos. Note-se que desde o início as ocorrências estavam associadas à questão de gênero, portanto, segundo uma sociologia da moral. Ainda no princípio de século XX, Maria Senhorinha de Lima tomou atitude corajosa ao romper com o esposo e amasiar-se com um amante. A seita, com o nome Noiva do Cordeiro, por sua vez, contribuiu para influenciar na significância do feminino. Além disso, serviram para reforçar as questões de gênero o fato de que haver nascido maioria mulher, fundarem uma fábrica de lingerie e realizarem desfiles, elas mesmas. Com eleição de Rosalee Fernandes Pereira (uma senhora moradora do povoado de Noiva do Cordeiro), em 2004, estabeleceu-se, de modo tácito, uma concepção fortemente impregnada pelo gênero.
Ao buscar os sentidos que se produzem, e toda a fenomenologia associada à representação social desse grupo comunitário, na cidade de Belo Vale, é insuficiente a teoria do – preconceito e discriminação. Há evidente um adoecimento quanto à sexualidade. Mas ao mudarmos nossa compreensão da realidade produzida nos últimos 30 anos, auxiliados pela grandeza teórica de Sigmund Freud, é possível ver a vala funda que houve entre os moradores de Noiva do Cordeiro e seus vizinhos. Contudo, pelas novas demandas postas pela sociedade atual, é fato que ficou para trás uma visão moralista da sexualidade, com grande distanciamento dos princípios religiosos, da educação escolar. Certamente, há uns abismos entre o conceito dos desígnios considerados divinos e os padrões biológicos.
O leitor inteligente e sensível deve ater-se ao fato de que não se trata aqui de adequar a sexualidade dos moradores de Noiva do Cordeiro aos padrões morais determinados pela sociedade ou pela religião. Trata-se de promover a compreensão das diferenças de mentalidade que existem entre os grupos de pessoas da região, com história centenária e isolamento geográfico, com estradas em conexão com Belo Horizonte, somente há 40 anos. Precisamos estar de acordo e engajados na possibilidade promissora de melhorar as condições de vida para todos, sem distinção, auto-estima e reconhecer simultaneamente
as diferenças entre todos.

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